Atelier Biográfico - Grupo de bordados sobre fotografia impressa

Aos poucos nossos bordados vão chegando ao fim. Nosso primeiro grupo de fotografias aplicadas sobre tecidos e bordadas segundo cada setênio da nossa biografia, está formando uma linda tela. Estou muito feliz com estes experimentos. Afinal os processos pelos quais passamos neste primeiro grupo de trabalho ao longo destes meses de fim de verão e durante todo o outono, trouxe muitas alegrias, dores revistas e transformadas, sombras contempladas e iluminadas. Como um verdadeiro fio de Ariadne, nossas linhas entraram e perfuraram cada ponto do tecido no bastidor - às vezes harmônicas, outras nervosas, ora arrebentando, ora embolando até percebermos que este era o caminho (permitir que isto acontecesse). Entramos com nossos fios no labirinto. Mas, como no mito, soubemos nos conduzir por eles para fora. E quanta alegria nos dá podermos agora olhar para este panorama fotográfico/biográfico de nós mesmas. 

Por hora, detalhes do que está para ser finalizado. Continuo depois ...








Luz de Inverno - Ateliê Biográfico

Gosto muito do inverno. Gosto da temperatura que me chama mais para dentro, para a confecção de coisas quentinhas, do aconchego de uma poltrona, de um chá quentinho, de um gatinho enroscado, da profundidade do azul do céu, das leituras intensas, do pensar profundo, das roupas mais belas e apuradas, da lã, da colcha de retalhos ... poderia ficar aqui horas enumerando tudo de bom que o inverno trás para mim.
Mas o que mais preenche a minha alma, é a luz e a sombra. A luz mais inclinada desta época, deixa as sombras longas,  sai projetando nas paredes, móveis,  cortinas, verdadeiras cenas que me tiram completamente de onde eu estou para  ficar mergulhada neste universo de belezas.
Ontem mesmo, estava distraída contemplando um galho de folha de amora, projetado através da cortina rendada, fazendo estripulias na minha mesa. Enquanto um grupo de 4 pessoas trabalhava em seus bordados  biográficos/fotográficos e aquarelas, eu na minha percepção destas luzes e sombras, acabei conseguindo tirar algumas fotos. Do celular mesmo.
Ah, e o mais adorável disto tudo é que são efêmeras. Pois uma nuvem, um pássaro, o vento, o sol que entra por detrás da casa ou do muro  e ... se foi. Perfeito.











Aos meus professores, com carinho.

Em homenagem aos professores de Curitiba, aos de São Paulo, aos de todo o Brasil afora, vou falar dos educadores que participaram da minha formação. Do jardim de infância ao ensino médio, que na minha época eram nomeados assim: jardim, primário, ginásio e colegial. Com 5 anos tive a minha primeira professora, D. Nelma. Final dos anos 60, ela ainda carregava fortemente a estética da década. Fecho os olhos e a vejo linda, de coque e vestido evasê de fundo azul com margaridas brancas e mais duas margaridinhas penduradas na orelha. Seu toque, voz e gestos eram delicados. Seu olhar era doce e acolhedor. Um bálsamo para uma menininha enlutada e assustada. Ela me ensinou este senso estético de como se apresentar ao mundo. Da cor que podemos escolher, do belo que podemos vestir. Dizia que todas as cores eram amigas, mas que um dia ou outro, elas podiam se desentender. E claro, a década de 60 com toda sua beleza e novidade. Me mostrou também como ser suave, feminina, amorosa. Depois veio D. Risoleta, primeiro ano. Alfabetização. Minha letra, até há pouco tempo, tinha traços dela. E quando quero, ainda resgato esta letra redondinha. Ensinou a escrever com prazer. Era uma senhora, com artrite avançada, andava com dificuldades, pouca paciência e era seletiva. Aprendi com ela que o mundo é dividido entre quem tem e quem não tem. Entre as cores das peles. E de como não tratar uma criança. Afinal ela dava reguadas nos mais levados, ou descontava suas dores e cansaço em outros tantos. Nunca levei a tal reguada. Mas doía em mim cada uma que ela dava. Depois veio D. Maria do Carmo, que apesar de seca e de poucas palavras, me ensinou a amar a matemática. Veio dela a primeira compreensão desta matéria. E do primor e capricho com os cadernos. Coisa que eu já tinha comigo. Mas ela sabia reconhecer, sem alardes. D. Jalcira, era severa mas sabia ensinar. Unhas longas e vermelhas, deixava as crianças arrepiadas quando passava estas unhas no quadro negro e o som agudo entrava em nossos ouvidos. Sempre com os mesmos vestidos, porque tinham o mesmo modelo, e usava o mesmo coque. Teve um gesto desumano com um menino negro e pobre, que deu a mim e outras duas colegas, uma barra de chocolate. Aquilo ficou como um assédio e ele foi expulso da escola. Sem justa causa, reconhecido por mim e alguns poucos colegas. Ela me reafirmou que o mundo era dividido entre raças e poder econômico. Mas também me ensinou a ter mais disciplina e o gosto pelo conhecimento. No ginásio teve a D. Maria Amália, professora de história, que me fez ficar encantada com a história das civilizações e dos domínios dos homens sobre outros homens, as conquistas, cada povo com sua forma de dominar e de ser dominado. Sua maneira de contar a história era como contar um caso, um conto, algo que eu poderia alcançar, estava logo alí, na linha do tempo. Ela sentava na mesa, olhava pro vazio, como se estivesse vendo o que contava, e narrava... Me sentia companheira daquelas personagens, como se tivesse vivido cada fase da humanidade. Irmã Terezinha, era professora de português e apesar de ser muito distante do aluno e muito prática, cara fechada, gostava tanto da matéria, que acabei aprendendo um bom português de base. No fundo, era gentil. E tinha um lindo par de olhos, cor de mel, escondidos atrás do hábito e da expressão muito fechada. Paulinho, professor de química - não entendi nada de química com ele -, me ensinou, através de gestos, palavras e conversas fora da classe, que o mundo em que vivíamos podia ser transformado e que esta transformação precisava de muita doação e conhecimento histórico, filosófico e político, mas que acima de tudo precisaríamos de muita força e coragem. Ele me levou à loucura com sua química, que eu não entendia. Tiana, outra professora de matemática. Minha única professora negra. Dava aulas sorrindo e brincando. De forma que a matéria que eu já gostava, se tornou mais interessante ainda com esta alegria e leveza. Pacífico que, no último ano desta fase, me fez finalmente, compreender química. Com uma didática fantástica, tirou dos meus ombros toneladas. Afinal consegui compreender a tal da matéria. Foram muitos outros, tantos que não consigo mais lembrar de cada um. Mas tenho certeza que todos contribuíram na minha formação. No meu ímpeto jovial, muitas vezes praguejei, detestei cada um deles. Mas hoje os reconheço em mim. E tenho muita gratidão por cada um destes indivíduos, nossos professores. Graças!


Os braços da D. Risoleta, já escuros pela artrite e manchas de idade.

Trago notícias!



                                           
Saudações!

Para você que segue o meu Pássaro Achado, trago notícias:

O meu trabalho finalmente migrou para o aconselhamento biográfico e as roupas ganharam um outro sentido. Nove meses desde o último post - gestação - agora sigo aqui no meu atelier à disposição de quem quiser passar um tempo olhando para sua própria biografia através de uma abordagem terapêutica.


O aconselhamento biográfico é um processo rico, de inspiração antroposófica, sempre acompanhado  de uma dinâmica artística, seja aquarela, desenhos, argila, tecelagem... Com estas ferramentas, a partir de suas memórias você constrói um panorama de sua vida, transformando suas vivências - sejam as mais difíceis ou as mais alegres; as mais intensas, os marcos, os encontros e desencontros -, em ferramentas para atuar no mundo.

Na Casa Pássaro para este ano, abro mais horários para o atendimento individual em encontros semanais. Estou programando também oficinas com pequenos grupos.

Depois de alguns projetos-piloto muito bem sucedidos, agora posso oferecer também a Oficina "Meu Vestido" - um workshop em que cada participante vai construindo o seu próprio vestido biográfico.

Já que promessa é dívida, conto neste link uma memória muito difícil para uma garotinha de 5 anos e seu mais amado vestido - e como esta experiência, revivida e transformada, serviu de suporte para um caminho que está apenas começando.

Será um prazer receber você neste novo momento.

Se quiser maiores informações ou agendar sua visita, envie sua mensagem clicando aqui.

Com carinho,


Adriana Franca