Como as estrelas, a poesia não tem mesmo consequência...




























Tenho uma amiga querida, a Anna Flávia Dias Salles, que hoje me mandou uma mensagem: "Wislawa, a poeta polonesa com que a Mônica me presenteou conhecer, morreu hoje. Vejam só, morreu hoje. 88 anos. Câncer de pulmão. Pra quem conhece seu livro [poemas] recentemente lançado no Brasil - o único - , ela está na capa com uma cara ótima em meio a um trago prazeroso num cigarro com piteira, ao meio dia e vinte de algum dia em Cracóvia. 

"o que não significa que ficou mais (escuro) ou que (partiu) algo que faltava..." Não ouvi sinos baterem, nem notícia na web. Mas, como as estrelas, a poesia não tem mesmo consequência, como se verá abaixo. 

Excesso   [Wislawa Symborska]

Foi descoberta uma nova estrela,
o  que não significa que ficou mais claro
nem que chegou algo que faltava.

A estrela é grande e longínqua,
tão longínqua que é pequena,
menor até que outras
muito menores que ela.
A estranheza não teria aqui nada de estranho
se ao menos tivéssemos tempo para ela.

A idade da estrela, a massa da estrela, a posição da estrela, 
tudo isso quiçá seja suficiente
para uma tese de doutorado
e uma modesta taça de vinho
nos círculos aproximados do céu:
o astrônomo, sua mulher, os parentes e os colegas,
ambiente informal, traje casual,
predominam na conversa os temas locais
e mastiga-se amendoim.

A estrela é extraordinária,
mas isso ainda não é a razão
para não beber à saúde das nossas senhoras
incomparavelmente mais próximas.

A estrela não tem conseqüência.
Não influi no clima, na moda, no resultado do jogo,
na mudança de governo, na renda e na crise de valores.

Não tem efeito na propaganda nem na indústria pesada.
Não tem reflexo no verniz da mesa de conferência.
Excedente em face dos dias contados da vida.

Pois o que há para perguntar,
sob quantas estrelas um homem nasce,
e sob quantas logo em seguida morre.

Nova.
- Ao menos me mostre onde ela está.
- Entre o contorno daquela nuvenzinha parda esgarçada
e aquele galhinho de acácia mais à esquerda.
- Ah – exclamo.

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